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Vivemos os tempos das paisagens instagramáveis


Passeando pela linha do tempo (timeline, desculpe...) do Instagram, vejo o vídeo de uma jovem numa bela praia do Nordeste, fazendo a propaganda do lugar. Mostrou cenas da paisagem e de opções de bares e restaurantes. E arrematou: “É muito instagramável!”. O filminho da garota mostra bem o que se busca hoje: o passeio não precisa ser exatamente bom, desde que pareça extremamente bom. O importante é que seus amigos, sua cunhada ou seu colega de escritório fiquem com invejinha da sua viagem.


“Instagramável” é um termo traduzido de “instagrammable”, cunhado nos Estados Unidos, com o intuito de rotular tudo aquilo que é digno de se compartilhar numa rede social. Já faz uns anos que essa expressão aparece nos dicionários americanos e, mais recentemente, em alguns dos nossos também. Lojas, cafés, consultórios, pet shops, bares, restaurantes, padarias, livrarias, todos agora se preocupam em oferecer ambientes instagramáveis para seus clientes. Afinal, a fotinho deles no seu estabelecimento pode virar propaganda grátis na internet.


Incluí livrarias na lista com um pé atrás. Sei lá, parece que quem se preocupa em ser instagramável não se ocupa muito com livros. Mas deve ser preconceito da minha parte. Coisas de quem viveu um tempo em que, antes de viajar, compravam-se alguns rolos de filmes para levar na mala. Tiravam-se as fotos com câmeras analógicas e, na volta, os filmes eram rebobinados para levá-los a alguma loja que os revelasse.


Uma semana depois, você voltava para buscar as fotos impressas. Era um momento de uma tensão divertida, porque não se sabia exatamente o que os retratos conteriam. Não dava para apagar na hora e fazer outro, caso não tivesse ficado bom. Muitos, aliás, ficavam péssimos. O jeito era selecionar os melhores, colocar nos albunzinhos que as lojas davam e então mostrar para os familiares e amigos. Sempre, claro, com comentários sobre cada foto.


Dependendo do tamanho do rolê, cabia até juntar uma turma em casa para mostrar nossas peripécias viajoras. Hoje, tira-se um bilhão de fotos de cada pose, escolhe-se a mais bacana, retoca-se com filtros inúmeros e bota para rodar na internet. Afinal, há milhares de seguidores ávidos para ver como somos felizes. Será?


Por favor, que não pareça saudosismo da minha parte. Não, “no meu tempo” não era melhor. Todo mundo também queria causar invejinha na turma a cada viagem. É que, às vezes, vejo quem está viajando fazendo posts sem parar e fico pensando se dá tempo de curtir a viagem de verdade sendo tão instagramável. Mas deve dar, se tem tanta gente fazendo...

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