Será que alguém consegue entender o Osório?
- Marcos Paulino
- 6 de mai. de 2021
- 2 min de leitura

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante.
Imagino que você já tenha ouvido esses versos. Mas alguma vez prestou realmente atenção neles? Claro, todos sabem que essa é a estrofe inicial do Hino Nacional Brasileiro. Mas bem pouca gente entende boa parte da letra do nosso hino. Se é o seu caso, pesquise na internet que há vários sites traduzindo os versos para o idioma português do brasileiro médio.
Não compreender exatamente a letra do hino não é um grande problema. Afinal, ela foi escrita há muitas décadas, com um palavreado bastante estranho para nossa linguagem cotidiana atual. Permito-me agora abrir parênteses para uma curiosidade histórica. A música do Hino Nacional foi composta em 1831. Até então, o hino brasileiro era o Hino da Independência, que, dizem, é de autoria do próprio imperador D. Pedro I.
A nova música do hino foi composta pelo maestro Francisco Manuel da Silva, logo após D. Pedro I abdicar do trono a favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara, que se tornaria D. Pedro II. Francisco Manuel, assim como muitos brasileiros, queria um compatriota no comando do Império, não mais um português, como o velho D. Pedro I. Como Pedro II era uma criança quando houve a abdicação, foi nomeada uma Regência para governar o país até a sua maioridade. Se quiser saber mais, consulte os livros de história.
Depois de idas e vindas, a letra que cantamos até hoje foi composta anos após a Proclamação da República, que, como você sabe, aconteceu em 1889. Foi escrita no início do século 20 pelo professor e poeta Osório Duque-Estrada no estilo decassílabo heroico, com versos de 10 sílabas poéticas com marcação na sexta e na décima sílabas tônicas. Duque-Estrada é o responsável pela letra que a gente não entende.
Fechando os parênteses, voltamos aos dias atuais. E então, observando o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), descobrimos que metade dos estudantes brasileiros não é capaz de interpretar um texto simples corretamente. Imagine o hino. Nesse quesito, estamos abaixo da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto a média nacional é de 413 pontos, a da OCDE é de 487.
Quem usa rede sociais (quem não?) percebe isso na prática, tamanha a quantidade de comentários sem sentido que se acumulam em qualquer post. Nota-se que boa parte dos “comentaristas” simplesmente não entendeu o que estava escrito. A internet é o portal que nos mostra, de forma clara, que simplesmente não sabemos ler. Afinal, ler não é apenas compreender que bo+la=bola. É saber o que significa bola.
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