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Você acha mesmo certo?



Em 1997, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo decidiu que deveria aprovar um projeto de lei que alertava o cidadão de que ele poderia, ao tentar entrar num elevador, cair no poço, caso o dito-cujo não estivesse no local esperado. Assim, era instituída a frase que se espalhou mais que o coronavírus e hoje pode ser vista na entrada de elevadores país afora: "Aviso aos passageiros: antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar".


Os nobres deputados paulistas consideraram, talvez, ao aprovar a lei pioneira, que repetir a palavra “elevador” ou substituí-la por “dito-cujo”, como eu fiz, não seria elegante. Enfiaram então um “o mesmo” na frase. Diz a gramática, contudo, que não se deve usar “mesmo” como pronome pessoal. O certo seria, deste modo, escrever: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar".


Há controvérsias, porém. Dicionários tradicionais aceitam a utilização do “mesmo” no contexto previsto pela lei do elevador, mas não sem alertar para certa deselegância nessa redação. Eu, de minha parte, abomino essa forma pretensamente culta de não repetir uma palavra. Fico sempre pensando quem seria o tal de Mesmo que assombra os elevadores por aí.


"Mesmo" é um pronome demonstrativo, que tem a função de retomar uma oração ou de reforçar uma ideia. Há muitas maneiras de utilizá-lo, como todos sabem. “Chega de andar, é aqui mesmo que vou ficar”. “Eu mesmo já havia avisado que não daria certo”. “Chover ou fazer sol, para mim, dá no mesmo”. “Mesmo que seja convidado para a festa, não vou”.


Em cada uma dessas situações (e não vou aporrinhar o leitor com tecnicismos), nosso versátil “mesmo” dá conta do recado dentro daquilo que se espera dele. Mas aquela história de: “O meliante foi preso após o mesmo ser encontrado pela polícia” ou “Minha mãe fez goiabada porque a mesma sabe que adoro esse doce” não dá, né? Na Língua Portuguesa, assim como em tudo na vida, há que se ter bom senso. Bom gosto também ajuda muito...

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