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Mel no céu dos bichos encantados

  • Foto do escritor: presscomimprensa
    presscomimprensa
  • 3 de set.
  • 2 min de leitura
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Posto que o destino não nos avisa seus próximos passos, notícias vêm e vão, trazendo felicidade e tristeza, num balanço que nos parece aleatório. Já eu creio que, de fato, o que acontece aqui e ali, agora e depois, estava escrito e juramentado em algum compêndio num plano além da nossa vã compreensão.

 

Pois deu-se que veio o tal destino tirar do nosso convívio um serzinho muito especial, que atendia pelo carinhoso nome de Mel. Cachorrinha danada! Cerca e muro não havia que ela não pudesse transpor. Assim nos acostumamos com suas caminhadas diárias pela vizinhança. Mas ela sempre voltava, passando por algum buraco cuja localização é segredo que levou consigo.

 

Lembro-me, nítido, do dia em que fomos buscá-la, eu e o então pequeno Ian, na casa de uma bondosa senhora. Ela havia recolhido uma ninhada que algum desalmado – Deus o abençoe – havia deixado numa caixa de papelão em sua calçada. Ficamos sabendo e meu filhote caçula, que tanto insistia em ter um “mascote”, realizou seu desejo.

 

Mel voltou conosco e daqui não mais saiu. Conviveu soberana com vários outros cães. Aceitou sem encrencar quando os gatos também passaram a habitar nosso lar. Resistiu a atropelamento, briga com pastoras gigantes e a muitos e variados incidentes. “Ela tem sete vidas”, era o mantra da família. O diabo é que, a gente não sabia, ela já havia gasto seis...

 

Não chegou, infelizmente, à oitava. Pela idade, parecia bem. No entanto, faltavam-lhe o faro certeiro, a visão límpida, a respiração tranquila. Suas atitudes já andavam um tanto esquisitas. Quis o destino – e talvez seja essa a boa notícia nesta história triste – que ela não padecesse de uma velhice indigna da sua exuberante existência. Partiu com sua fleuma de rainha, construída com a força de uma amazona aliada à meiguice de um beija-flor.

 

Mel leva com ela sua inteligência acima da média e o olhar com o qual, incrivelmente, sempre dizia o que queria. Carrega consigo a gula por pão. Vou sentir falta de vê-la carregando seu filãozinho entre os dentes, sorriso de satisfação no canto da boca. Todavia, no céu dos bichos encantados, tem pães de todo tipo. Recompensa certa por ter saciado nossa família de alegria por tanto tempo.

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