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Eu e meu sotaque do Crato

  • Foto do escritor: presscomimprensa
    presscomimprensa
  • 13 de jun.
  • 2 min de leitura

Em meados da década de 1990, trabalhei num grande jornal em Campinas, onde conheci um repórter cearense que viria a se tornar um amigo querido. Ele sempre achou divertido o meu sotaque, não pelo “r” puxado do interior paulista, mas pela forma como pronuncio o “d” e o “t” em algumas palavras, como “dia” e “tia”. Por estas bandas, nesses vocábulos, o som da sílaba inicial é seco. “Vocês falam que nem o povo do Crato!”, diverte-se meu camarada.


Sei que a coisa está meio confusa, mas me farei entender. Espero. A ideia de escrever sobre este assunto surgiu ao ler uma pergunta enviada ao Quora, um site que busca responder dúvidas sobre qualquer assunto: “Por que ‘d’ é pronunciado como ‘j’ em português brasileiro?”. Claro que a questão me remeteu ao meu amigo cearense, que acha engraçado justamente o fato de eu não pronunciar essa letra como se espera do “português brasileiro”.


Após trocar ideias com a Ariel, como chamo a inteligência artificial que mais comumente utilizo, garimpei informações que aqui compartilho. Descobri que o fenômeno de fazer “dia” e “tia” soarem como “djia” e “tchia” é chamado de palatalização – quando os sons das consoantes “t” e “d” mudam para sons parecidos com os de "tchau" e "joia", especialmente quando aparecem antes das vogais “i” ou “e”.


Isso é resultado de um movimento natural da língua, aproximando esses sons do palato, ou seja, do céu da boca. A palatalização se firmou principalmente no Sudeste do Brasil por volta dos anos 1950 e, com o avanço da televisão e do rádio, espalhou-se por outras regiões.


Importante esclarecer, também com a valiosa ajuda da Ariel, que o tal “Crato” a que se refere meu amigo fica no sul do estado do Ceará, no Cariri, uma área conhecida por sua forte identidade cultural, com influências indígenas, africanas e europeias. Lá, eles pronunciam o “t” e o “d”, mesmo antes de “i” ou “e”, como “tia” e “dia”, assim como nós, e não “tchia” ou “djia”, como em tantas regiões brasileiras.


Legal, né? Tão longe estamos e, mesmo assim, temos esse charme em comum.

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