Em 1882, o médico, professor e poeta carioca Laurindo Rabelo, que morreu com apenas 38 anos, publicou uma obra-prima da cacofonia no livrinho "Poesias Livres", que divulgava poesias obscenas. Trata-se do poema “As rosas do cume”. Começa assim:
"No alto daquele cume
Plantei uma roseira
O vento no cume bate
A rosa no cume cheira
Quando cai a chuva fina
Salpicos no cume caem
Formigas no cume entram
Abelhas do cume saem".
Por aí vai.
Se você não conhece, recomendo procurar. É muito bom! Virou até música na voz do Falcão.
Nesse poema, Rabelo usou com maestria o cacófato, vício de linguagem produzido pela união das sílabas de palavras vizinhas que geram sons desagradáveis, obscenos, engraçados e muitas vezes inconvenientes.
Por exemplo:
"Ele beijou na boca dela". (cadela)
"Roberto é religioso, tem fé demais". (fede mais)
Quando for escrever (ou falar), atente-se para o cacófato. Há sempre uma maneira diferente de dizer algo.
"Ele a beijou na boca".
"Roberto é religioso, tem muita fé".
A não ser, claro, que você queira usar o cacófato para fazer graça, como o fez brilhantemente Laurindo Rabelo.
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