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Crônica: Alguém anotou a placa do tanque de fumaça?




Algumas coisas mudam, mas não deveriam. Veja por exemplo as placas dos veículos. No padrão Mercosul, sumiram os nomes das cidades em carros, caminhões e motos brasileiros. Tchau, diversão. Curralinho, Ponta Grossa e outros tantos municípios proporcionaram durante décadas piadas de duplo sentido de péssimo gosto, e por isso tão divertidas. Até Dois Córregos já foi motivo de chacota numa viagem. “Só podia ser de Não-Sei-Onde!”, a gente comentava quando via um motorista cometendo uma barbeiragem.


Como acredito que ainda não exista o bullying automotivo, admito que sempre me esbaldei com essas bobagens, que, doravante, terão vida curta. E as cidades nas placas dos automóveis ainda rendiam boas histórias. Conta-se que o cantor Agnaldo Timóteo ia todo ano à mineira Timóteo para licenciar seus carros, só para ter o próprio sobrenome neles. Tenho um amigo que, décadas atrás, achava tão chique ter Rio de Janeiro estampado em sua placa, que se recusava a transferir o documento do veículo para sua cidade.


Por outro lado, há mudanças que foram para melhor, mas que estão ameaçadas de regressão. Cito o voto eletrônico, por ora garantido, mas vai saber... As eleições brasileiras se tornaram exemplo de agilidade e eficiência para o mundo todo depois da implantação das urnas eletrônicas. Mas há quem ainda pense que contar papeizinhos é mais seguro que lançar mão da avançada tecnologia existente no mercado. Testes e mais testes comprovaram a idoneidade do atual sistema, mas a turma que ainda sonha com fitas cassete não se conforma.


Enfim, há quem ache que a tão cafona ditadura é o melhor sistema de governo. Paciência. Deve ser preguiça de ter que optar por isso ou aquilo. Mais fácil que alguém determine o que se pode ler, ouvir, assistir ou escrever. Ter opinião própria – e defendê-la – dá um trabalho danado. Melhor deixar que um militar ou um político (ou um militar-político) nos diga como agir. Nesse caso, nem precisa do voto, impresso ou eletrônico. Basta o arsenal das Forças Armadas, que aliás tem sido exibido pelas ruas de Brasília como um fumacento atestado de covardia.


Ah, e tem quem acredite que vacina não funciona. Na época de Oswaldo Cruz, também havia gente assim. A diferença é que o famoso médico sanitarista promoveu sua cruzada contra as epidemias que assolavam o Brasil no início do século 20. Ou seja, mais de 100 anos atrás ele já tentava convencer a plebe rude de que a ciência salva vidas. Hoje a ciência tenta convencer que, não sei se você viu, tem uma gripezinha por aí que mata gente adoidado, mas que com imunização aumenta bastante a chance de sobrevivência.


Diante de tudo isso, resta-me apenas fazer alguns apelos. Vacinem-se. Acreditem na democracia. Deixem o passado nos museus e recorram a ele só quando servir de lição. Repudiem quem tenta nos intimidar com tanques de guerra, ou fumaça. Creiam que a Terra é redonda, ou quase. E coloquem adesivos nos carros informando suas cidades. Ninguém pode nos tirar isso!

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