Ela tem os olhos verde-amarelados ou amarelo-esverdeados, tanto faz. São lindos. Predominantemente negra, carrega nuances de bege e marrom. Talvez seja isso que os cabeleireiros chamam de luzes. Garota meiga, carinhosa. E esfomeada! Não importa a hora do dia, está sempre disposta a um lanchinho. Se não ganha, mostra que também sabe ser brava. Reclama alto e olha com os olhos furta-cor faiscando intensamente. Mas logo, barriga cheia, volta ao seu padrão zen.
Ele é esbelto, forte. Pernas longas e ágeis. Olhos verdes que espreitam tudo o que acontece ao redor sem perder minúcia alguma. Reservado. Todavia, quando está a fim, é capaz de carinhos sem fim. Se não está, recolhe-se a um canto, sem querer saber de conversa. Energia recarregada, a preguiça dá lugar a uma disposição de que só a juventude pode desfrutar. Meio misterioso, é verdade. Aos poucos, no entanto, vai revelando seus segredos se você conquista a sua confiança.
Ela chegou primeiro, e não demorou muito a se enturmar. Tímida no início, foi se aconchegando, descobrindo as delícias de um cafuné. Não gosta de muita festa, de muita gente reunida, momentos em que prefere se recolher a espaços que lhe permitam insights mais meditativos. Desconfio, porém, que devagarinho vai entendendo que, vez ou outra, dá para abrir mão da paz interior em troca de algum tempinho de passatempos mais agitados.
Ele veio depois e se escondeu atrás de uma instransponível barreira de recato. Antissocial. Envergonhado. Prudente ao extremo. Resguardava-se de qualquer contato mais próximo. Foram dias difíceis para ambas as partes. Mas todos sabiam que, aos poucos, os tijolinhos do muro de resistência seriam desmontados um a um e deixariam transparecer o ser especial que, de fato, ele é. Um ser iluminado, percebe quem com ele convive.
Ela é a Maya, uma linda gatinha de olhos juntinhos, que quase denunciam uma leve vesguice. Pelos compridos e macios, desgrenhados, um focinho que de tão delicado chega a dar pena. Basta, contudo, um de seus miados agudos e firmes para que se imponha de vez. Ele é o Billy, irmão da Maya. Um gatinho com pelo tigrado em vários tons de cinza. Mais de 50, se é para exagerar. Patas grandes de caçador que servem, na verdade, para carinhos em quem ele gosta. É incrível a paz que se sente ao seu lado.
Tivemos outro gato, o Seek, que infelizmente só durou um ano conosco. Não resistiu a um problema urinário, mas já tinha cumprido a sua missão: mostrar à nossa família que nela cabiam esses bichinhos tão especiais. Desconfiadas no início, as cachorras agora convivem com os miados numa boa. Cada espécie com seus encantos, com sua forma de demonstrar amor. Tão diferentes entre si, que são, acredito, complementares. Como ouvi alguém dizer um dia: cães são crianças, gatos são adolescentes. Quem convive com uns e outros, entende perfeitamente.
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