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Crônica: Por que não somos menos machistas?



Meus avós maternos tiveram oito filhos, sete mulheres e um homem. Todas elas se tornaram professoras. Talvez, mais por falta de oportunidade em outras áreas que por vocação. Por isso, não me surpreendi quando me deparei com a informação de que a grande maioria dos professores da rede pública paulista é do sexo feminino. Elas somam, em levantamento publicado pelo governo do Estado neste mês, 107.829 docentes. Eles são bem menos da metade, apenas 43.892. Se são elas que mais ensinam, por que a gente não aprende a ser menos machista?


Ainda no terreno da estatística, outro dado, este sim, deixou-me perplexo. Segundo a pesquisa DNA do Torcedor do Ibope, divulgada em agosto, nada menos que 53% dos torcedores do meu Corinthians são mulheres. O Timão tem 25,7 milhões de torcedores. Em comparação com outros clubes brasileiros, o Corinthians viu seu contingente de fãs do sexo feminino experimentar a maior alta: 19%. Entre os 20 times da 1ª divisão, é o que tem mais mulheres entre seus adeptos. Se são elas que dominam o bando de loucos, por que a gente não aprende a ser menos machista?


Mantendo-me no assunto futebol, recentemente o Santos anunciou que o atacante Robinho, pela enésima vez, vestirá seu glorioso uniforme alvinegro. O jogador foi condenado na Itália por agressão sexual contra uma mulher. Fique claro: a condenação não é definitiva e, pela justiça italiana, ele ainda tem duas instâncias para recorrer. Porém, mesmo assim, já teve patrocinador do Santos rescindindo contrato por não concordar com sua vinda. Num país como o nosso, onde uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, Robinho precisa dar explicações consistentes. Se estamos ficando cada vez mais intolerantes com crimes sexuais (estamos?), por que não aprendemos a ser menos machistas?


Em casa, temos dois gatos. Um macho e uma fêmea. Então, por que falamos “gatos”, no masculino? Na língua portuguesa, funciona assim mesmo. Se há um grupo de 30 pessoas, sendo 29 mulheres e um homem, a gente dirá que elas formam uma turma de “amigos”. Está tão enraizado na nossa cultura, que nem nos damos conta disso. Se eu estivesse com minha mulher e minha filha e alguém dissesse “Queridas, que bom ver vocês!”, eu acharia estranho. E vocês, mulheres, acham esquisito quando são maioria e, mesmo assim, são tratadas pelo pronome masculino? Se fico pensando nisso, por que não aprendo a ser menos machista?


Recentemente, preenchi um desses cadastros na internet. Na verdade, desisti no meio. Fiquei indignado por perguntarem minha altura, meu peso, a cor dos meus olhos e dos meus cabelos. Eu não estava preenchendo ficha para nada que minha aparência fizesse qualquer diferença. Aliás, faz para alguma coisa? E, claro, uma das perguntas era se sou do gênero masculino ou feminino. Hein? Alguém ainda questiona isso? Se essa indignação me vem à flor da pele, por que não aprendo a ser menos machista?


As mulheres representam 51,7% da população brasileira. Todavia, de acordo com o Mapa das Mulheres na Política 2019 publicado pela ONU, entre 193 nações, o Brasil ocupa a 134ª posição no ranking de representatividade feminina no Parlamento. Em 2018, elegemos 81 senadores, apenas 12 mulheres. Na Câmara, são somente 77 cadeiras ocupadas por deputadas, de um total de 513. E no Executivo a situação não é melhor. As mulheres não fazem nem executam as leis no Brasil. Será que é por isso que temos tanta dificuldade para aprender a sermos menos machistas?

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