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A caminho do Paraíso, passando pela Liberdade



Sebastião chegou ao fim de uma avenida numa movimentada região da metrópole. Duas possibilidades de direção surgiam à sua frente, estampadas em placas. Uma delas apontava: Liberdade. Outra sugeria: Paraíso. Cansado da jornada, o homem recostou-se numa árvore, sob sua generosa sombra, e se pôs a refletir. Qual caminho lhe traria mais felicidade: o da Liberdade ou o do Paraíso? Decisão difícil.


Sebastião cogitou se seria possível chegar ao Paraíso trilhando as vias da Liberdade. Porém, as austeras placas pareciam irredutíveis: uma escolha definitiva teria que ser feita. Ou um, ou outro. Liberdade, filosofou o caminhante, pressupõe escolhas. O que leva ao livre arbítrio. E, consequentemente, à responsabilidade. Decisões erradas na Liberdade certamente o afastariam do caminho do Paraíso.


Lembrou-se então das crianças que vira brincando pouco antes, num cruzamento em que o pai delas vendia alguma coisa aos motoristas parados no semáforo para tentar garantir o sustento da família. Roupas sujas, pés no chão, pareciam felizes, entretanto. Que escolhas aquele homem teria feito para chegar àquele ponto? Teria ele tomado decisões equivocadas na Liberdade? Ou seria aquela uma parada necessária para chegar ao Paraíso?


Sebastião se questionou se a precariedade daquelas vidas terrenas na Liberdade encontraria como contrapartida a abundância no Paraíso. Ou se, mesmo com toda aquela precisão, a alegria estivesse com a família pelo simples motivo de estarem juntos. Para chegar ao Paraíso é necessário mesmo ter? Ou ser é suficiente? O peregrino viajava em seus pensamentos sem, no entanto, conseguir chegar a uma conclusão.


Recordou-se também do velho homem amarrotado e barbudo que vira vendendo picolés. Vida calejada de mãos duras, mãos duras da vida calejada. Que caminho ele teria escolhido nesta encruzilhada? Tentou imaginar como aquela alma judiada comia ou dormia. Se havia alguém o esperando ao fim de cada dia. Se a cachaça que tomara na Liberdade o entorpecera a ponto de não conseguir mais ver o caminho do Paraíso.


Enfim, o reflexo de uma terceira placa que passara despercebida chamou a atenção de Sebastião. Nela, estava escrito Consolação. E ele percebeu então que poderia haver outro caminho. A Liberdade poderia ser uma rota para o Paraíso, desde que passasse pela Consolação, um lugar em que errar é tolerável se se tiver humildade para reconhecer e coragem para se redimir. Sebastião tomou o rumo do Paraíso, passando pela Liberdade e atravessando a Consolação.

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