Fácil nunca é. Faz tempo que trago essa frase guardada na memória. Vou contextualizá-la. Não gosto muito de correr. Gosto de futebol, de vôlei, de pingue-pongue. Gosto de caminhar. Aturo a musculação, por necessária. Mas correr, de fato, não é um esporte que me dê prazer. Tanto que desenvolvi a “corrinhada”. Ou seja, alterno caminhada e corrida. Fica mais suportável. Mesmo sem ser fã de correr, no entanto, tinha vontade de participar de uma dessas provas de rua. Comentei com meu irmão, que se animou. Combinamos de nos inscrever.
Escolhemos a prova de que iríamos participar e, cada um a seu modo, fomos nos preparando nos meses que antecederam a largada. Comparando meus tempos com os dele, percebi que eu precisaria acelerar para não passar muita vergonha. E treinei correr mais rápido do que costumava. Não seria uma prova longa, menos de sete quilômetros, então dava para tentar melhorar, ao menos um pouco, a performance. No começo foi difícil, mas aos poucos fui me acostumando com o novo ritmo das passadas.
O dia da prova chegou. Seria num final de tarde de sábado. E depois teria um show de rock, que foi, aliás, o que me fez escolher esse evento para minha estreia no mundo das corridas. Já acordei ansioso. Se forçasse demais no começo, conseguiria ir até o fim? E se me desse uma dor de barriga durante o trajeto? Como deveria me alimentar? E o pior de tudo: e se meu tempo fosse tão ruim a ponto de me fazer passar vergonha? A esta altura, devo confessar que sou um tantinho competitivo e que chegar lá no final do pelotão não estava nos meus planos.
Sabe aquela coisa de que o importante é competir? Para mim, não se aplica. Admito que, às vezes, prefiro nem entrar numa competição, seja lá do que for, para não ter que passar o estresse de me imaginar tendo um resultado pífio. Nem é questão de ter que ser sempre o primeiro, mas de, pelo menos, cumprir meu papel com alguma dignidade. Nunca consegui entender como alguém consegue rir de si mesmo quando é o pior no campo ou o café-com-leite na quadra. Invejinha dessas pessoas, sim, eu tenho.
Sem mais delongas, tudo na corrida deu certo para mim. Ultrapassei pessoas que corriam há muito mais tempo que eu, fiz um tempo acima do que esperava e terminei cheio de disposição para acompanhar o show que fecharia o evento. Feliz da vida, peguei minha medalha de participação, que guardo com orgulho. Porém, o que guardo mesmo, e esse foi o grande legado de toda essa epopeia, foi a frase do vencedor geral da corrida, quando entrevistado pelo locutor oficial, que lhe perguntou: “Foi fácil?”.
A pergunta fazia sentido. Num trajeto tão curto, seu tempo foi quase a metade do meu. Claro, o cara é um atleta experimentado e tudo o mais. Mas, de fato, pareceu fácil demais para ele. “Fácil nunca é”, respondeu o campeão serenamente para o locutor. Sem dedicação, sacrifícios e muita vontade, não há talento que faça um vencedor. Sei que parece frase de livro de autoajuda. É muito verdadeira, todavia. Faz mais de 30 anos que escrevo profissionalmente. E te garanto: não foi nada fácil chegar ao final deste texto. Ah, nunca mais participei de nenhuma corrida. Vai que dá errado...