Não há paz sem justiça, diz Martin Luther King 3º, filho do lendário ativista negro Martin Luther King Jr. Ele se refere às manifestações que pipocaram pelos Estados Unidos após um policial branco assassinar George Floyd, homem negro de 46 anos, por asfixia, pressionando seu pescoço com o joelho por longos minutos. A truculência que vem de cima inspira a todos aqui embaixo. Diga-se que a frase que Luther King tuitou fora dita pelo Papa João Paulo 2º anos atrás. De tempos em tempos, é preciso alguém importante vir à tona para lembrar-nos do óbvio.
Racismo não é novidade nem nos EUA nem neste Brasil tão judiado. Pelo contrário. Tanto lá como cá, somos professores na arte do preconceito racial. Aliás, detesto dividir seres humanos por raças, ou cor da pele ou por qualquer outra característica física. Fazemos parte da raça humana e ponto. Mesmo que alguns não mereçam entrar nesse grupo. Mas, enfim, voltemos ao racismo, que nos acompanha desde sempre e que segue bastante em voga nestes tempos em que a intolerância é praticamente programa governamental.
Há uma hora em que o parafuso, de tanto ser apertado, espana. Em que a faísca acende as toneladas de pólvora que a injustiça fez amontoar nos guetos. E aí, meu amigo, o bicho pega. Sofrer cansa. E os negros – ou pretos, termo que tem sido preferido por uma parcela da população, ainda polêmico – sofrem faz tempo, irmão. Sofrem para estudar, para trabalhar, para ser tratados como iguais. Em suma, é isso, ser tratados como iguais. Basta, porém, assistir à entrevista de um negro, mesmo os mais famosos, para que se repitam experiências revoltantes que viveram pelo simples fato de serem negros.
Veja só. Segundo o IBGE, em pesquisa de 2019, 19 milhões de brasileiros se consideram pretos e 89 milhões, pardos. Pelo instituto, os negros, que é como considera a soma dos pretos e pardos, representam 56% dos habitantes do país. Qualquer estudo, no entanto, mostra que os negros atingem percentuais muito maiores em relação aos brancos quando se recortam amostras como população carcerária, vítimas de homicídios e desempregados. E o jogo se inverte se os itens analisados dizem respeito a cargos de chefia, distribuição de renda e representatividade no Poder Público.
Quantos negros há na sala de aula da escola particular que seu filho frequenta? Quantos negros dividem com sua família a piscina do clube do qual você é sócio? Quantos negros são seus vizinhos no condomínio guardado por muros e guaritas onde você mora? Olhe ao redor e veja que não são só números. É a realidade esfregando nas nossas caras o quão racista é nossa sociedade, apesar de tantos desejarem tapar esse sol gigantesco com uma peneira de furos enormes.
Diariamente, Floyds morrem no Brasil, nos Estados Unidos e no mundo afora por apenas um motivo: a cor da pele. Assim como também morrem vítimas e mais vítimas de tantos preconceitos quanto nossa mente insana é capaz de inventar. E enquanto o exemplo dos governantes só piorar a situação, restará, infelizmente, o grito dos oprimidos a clamar por igualdade. Porque, como disseram João 2º e Luther 3º, não há paz sem justiça.